quarta-feira, 4 de novembro de 2009

PARQUE NATURAL

Tenho pouco a dizer,
Tão pouco que pareço vazio,
que pareço louco,
de tão pouco te ver.

Esqueci-me do vento,
De que ar movimento,
é estar enfunado,
em forma de quilha, empinado.

Passo os dias no parque,
a regar pássaros,
a comer raízes,
colho os pomos e o ventre.

Estou ausente de mim,
mesmo quando me abres a terra,
e me tocas na pele com a lâmina,
cintilas, como gota rubra no peito.

E escavas adentro de mim,
mais fundo, além do abismo,
do fogo, do breve sismo,
do tremor da mão.

Um filho no leito,
dorme alheio, num corpo plácido
sonhando nas mãos em gesto ácido,
no mundo futuro repousa o veneno.

Não tenho sono, não durmo,
Deambulo na noite quase nu,
abro a janela, pinto paredes
roseas da tua carne na minha.

Só escrevo de noite,
Só escrevo de dia,
de Outono ou Inverno,
ou nas chamas do Inferno.

Ardo nas páginas nocturnas,
quase chama, quase frio.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

(s/ título)

Pouso no copo
os meus lábios de vinho,
ao de leve sobre os teus.
Pouso a mão,
no seio da tua mão,
no cetim alinhavado
dos teus ombros.
Mais tarde ou mais cedo,
chegarás a tempo...

FORMALISMO

Formas lúcidas:
Um seio, uma mão,
o braço de prata.
Formas lúdicas:
A pele, uma bola,
um corpo jogado
ao eixo.
Formas lúbricas:
um septo, uma cratera de fogo,
lábios afastados.
A síntese destas geometrias:
o hemisfério da bala disparada.

BUENOS AIRES EN MI CABEZA

ILFORD

Ontem descobri na minha carteira um papel velho, misturado com cartões, pedaços de identidade, algumas fotografias deformadas na bordadura de renda.
O papel dizia qualquer coisa imperceptível, transportada dum tempo incerto: pela primeira vez pensei ser o tempo certo para escrever as memórias.
Voltei a colocar o papel amarrotado no separador da carteira.
Pensei: uma fotografia a preto e branco pode levar-nos intimamente a uma labareda da alma esquecida.

domingo, 1 de novembro de 2009

CAPA

As Paisagens, tal como eu previa autonomizaram-se. Ganharam fôlego, encheram o peito de ar. Já respiram em pulmões plenos. Agora só precisam de uma casca, digo, uma Capa.

A Capa que foi mandada fazer por medida está a ser alinhavada, antes de costurada e pronta a vestir. Vai ficar bonita (espero!), bonita e resistente às intempéries: uma capa para as quatro estações.

Obrigado Anabela e bom trabalho!

JORGE DE SENA

Ontem 1 de Novembro, em Lisboa, no CCB houve indícios de Sinais de Fogo.