quarta-feira, 4 de novembro de 2009

PARQUE NATURAL

Tenho pouco a dizer,
Tão pouco que pareço vazio,
que pareço louco,
de tão pouco te ver.

Esqueci-me do vento,
De que ar movimento,
é estar enfunado,
em forma de quilha, empinado.

Passo os dias no parque,
a regar pássaros,
a comer raízes,
colho os pomos e o ventre.

Estou ausente de mim,
mesmo quando me abres a terra,
e me tocas na pele com a lâmina,
cintilas, como gota rubra no peito.

E escavas adentro de mim,
mais fundo, além do abismo,
do fogo, do breve sismo,
do tremor da mão.

Um filho no leito,
dorme alheio, num corpo plácido
sonhando nas mãos em gesto ácido,
no mundo futuro repousa o veneno.

Não tenho sono, não durmo,
Deambulo na noite quase nu,
abro a janela, pinto paredes
roseas da tua carne na minha.

Só escrevo de noite,
Só escrevo de dia,
de Outono ou Inverno,
ou nas chamas do Inferno.

Ardo nas páginas nocturnas,
quase chama, quase frio.

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