segunda-feira, 21 de setembro de 2009

boca incontinente

que é isto esta escrita em jacto constante torneira aberta onde se misturam pão oiro e terra de fogo falta cantá-la em terra queimada e almas cicatrizadas e paisagens de cimento concreto administradas com um cuidado maternal esquecido fumo as palavras e espero visões incendiárias numa espera dolorosa de anjos prostituídos uma nova ordem económica já não escrevo poesia as palavras autonomizaram-se soltam-se das folhas de papel caem dos outonos como árvores arrancadas do meu peito folhas com seiva acre plantadas em caixas de cimento caiadas com o leite materno da terra amada nunca me vi a teu lado companheira fiel de longos serões de solidão em jacto constante rio imenso lançado nos desfildeiros no capelo das ondas no teu cabelo sedoso da memória de há vinte anos ou trinta ou de sempre ou ainda antes do pecado original leio as viagens e escrevo o universo todo um dia hão-de escrever-me num folego só como eu queria e o papel não suportava pela fragilidade e simplicidade das folhas sinceras há quem não suporte a sinceridade de um rabisco de criança tal como o escrevo hoje vou pecar todos os dias em busca dessa salvação sublime da água limpa com que lavo o corpo da vida e tu meu amor de ontem de hoje de nunca mais escoltas-me a alma com os teus braços envolventes da morte que me visita tentando vender a sua fórmula milagrosa e me promete descontos em bordéis lisboetas porquê lisboa se me perco sempre longe dela dentro da minha cabeça eu digo-vos somos um povo com sonhos amputados e uma fome enorme de infinito

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