quarta-feira, 16 de setembro de 2009

RUA OBLÍQUA

Desci a rua, fui a um bar: Marula. Ou talvez não fosse um bar. O balcão era em forma de barco e os clientes atiravam setas uns aos outros, até acertar no alvo. Bebi um copo de fogo e a minha alma ardeu momentaneamente, ou talvez as labaredas fossem mais prolongadas. No fundo do balcão uma jovem loura enverga um vestido de xadrez. Podia dar-lhe xeque-mate em dois lances. De seguida entrou um homem calvo, decidido. Calvo e decidido a beijá-la na boca do meu fogo. Ela pareceu-me não jogar bem e as mãos do homem embrutecido movimentavam-se no tabuleiro macio, de encontro ao balcão. A perna dele pressionava-a de encontro ao balcão e eu bebo mais um cálice de fogo.
As horas passam, mas estou lá há menos de vinte minutos. Os dardos cruzam-se à minha frente em trajectórias oblíquas, desafiando as bolas de fogo lançadas no hálito das bocas. Um dente de ouro reluz de encontro à lingua da loira. A bola de fogo torna-se incontrolável e o barman afunda-se um pouco mais no seu barco. Senta-se e fuma um cigarro. O alvo anuncia-se vitorioso e eu volto a casa atravessando as ruas estreitas, de luzes amareladas. Talvez vá dormir um pouco: ou cobrir.

Sem comentários:

Enviar um comentário